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A FESTA DE PURIM


O livro de Ester tem representado uma grande incógnita para muitos teólogos cristãos e estudiosos judeus há vários séculos. A principal razão para tal caracterização se dá pelo fato de não se ter mencionado no livro de Ester o nome de Deus; ou seja, o tetragrama não é mencionado sequer uma única vez ao longo do enredo descrito. Mas, porque os sábios e escribas judeus optaram por incluir o livro de Ester entre os escritos sagrados, aceitando sua história como verídica? Quais foram os critérios utilizados para se aceitar o livro de Ester como sendo “divinamente” inspirado?


Se analisarmos com cautela o conteúdo da trama do livro, veremos que as personagens e os eventos ali narrados são comprovados historicamente através de outras fontes escritas, a maioria de origem babilônica e grega. Apesar dos reis persas se casarem apenas com mulheres de linhagens reais e nobres, escritos gregos datados do séc II A.C comprovam que o rei Xerxes I (Assuero), realizou um grande banquete para escolher para si uma nova esposa, já que estava extremamente decepcionado não apenas com a rebeldia da rainha Vasti (Amestris), mas também com as sucessivas derrotas para o emergente império grego. Além disso, a tradição criada em decorrência da história do livro de Ester é guardada por judeus de todo o mundo há mais de 2000 anos através da Festa de Purim (Et 9:27 e 28). Mordechai, primo de Ester, dotado de autoridade real, ordenou que fosse celebrada ao longo das gerações do povo judeu a Festa de Purim (Pur=sorte), nos dias 14 e 15 do mês de Adar, como constante recordação do grande livramento que tiveram os judeus das mãos do malvado Hamân (Hamã). Por isso, a festa de Purim é celebrada por judeus de todo o mundo, até os dias de hoje.

Mas a pergunta primordial ainda se encontra sem resposta: Porque o nome de D-us não é mencionado no Livro de Ester?

Ibn Ezra, o grande sábio rabino medieval, afirmou que apesar do tetragrama (YHVH) não ser mencionado sequer uma vez em Ester, a mão do Deus de Israel é claramente visível nos eventos narrados. O Rabino Ezra ainda vai além ao analisar da seguinte forma a ausência do nome de Deus: “O Sábio Mordechai ordenou para que fosse celebrada a Festa de Purim como memorial entre os judeus da diáspora. Certamente, a história de Purim deveria ser lida durante as comemorações. Os judeus da diáspora habitavam entre povos pagãos, e se o tetragrama fosse utilizado na escrita, certamente esses povos iriam profanar o Santo nome do Eterno, substituindo-o pelo nome de seus deuses. Por isso, nossos sábios do passado optaram por não utilizar a grafia do nome do Eterno no livro de Ester.” A explanação do sábio Ibn Ezra é bem condizente com o que a Torá diz a respeito do nome de Deus, e possivelmente, foi o que ocorreu com o livro de Ester.

Outro livro que compõe os escritos judaicos e que também apresenta o mesmo problema do livro de Ester é o Cântico dos Cânticos, escrito pelo Rei Salomão. Neste livro, não encontramos sequer uma referência ao nome de Deus. Como então justificar sua inclusão entre os livros sagrados, ou a inspiração divina por parte do Rei ? Os sábios judeus da antiguidade chegaram a uma conclusão bem interessante quanto ao Cântico dos Cânticos. Segundo eles, a troca de elogios e o amor idealizado entre o noivo e a noiva, são na verdade, uma alusão do amor de Deus para com Israel, e por isso, a obra pode ser considerada divinamente “inspirada”.

A verdade é que podemos extrair do Livro de Ester grandes princípios e exemplos para nossas vidas. Vemos, ao longo do enredo, que Deus está no controle de nossos destinos, e que Ele sempre se apresenta como El Yeshuá, ou seja, o Deus que salva, disposto a ouvir as orações dos seus servos quando em situações impossíveis de serem resolvidas aos olhos dos humanos. Vemos também a sabedoria de Ester e de seu primo Mordechai, os quais souberam fazer uso de sua posição e status para abençoar a muitos. Além disso, o livro de Ester nos mostra que muitas vezes devemos lutar para obter a vitória assim como fizeram os judeus habitantes da Pérsia, e não apenas nos acomodarmos “esperando” um milagre. Como diz o velho ditado judaico: “creia nos milagres, mas não dependa deles”!

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